Reflexões sobre as Velhices:
Construindo Perspectivas Plurais ao Longo de 2024
Leides Moura
O envelhecimento é um fenômeno heterogêneo, profundamente enraizado nas especificidades de cada realidade social. Em um contexto marcado por desigualdades e pelo idadismo estrutural, refletir criticamente sobre as velhices é essencial para transformar discursos e práticas que ainda reduzem essa etapa da vida a um modelo universalista e normativo.
No Grupo de Pesquisa Envelhecer Cotidiano, temos trabalhado para desconstruir paradigmas homogeneizantes, promovendo perspectivas que valorizem a pluralidade das experiências e a centralidade das vozes das pessoas idosas. Nosso objetivo é mobilizar pesquisadores, educadores e ativistas sociais a repensar suas iniciativas, incorporando abordagens críticas e transformadoras que contribuam para a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva.
1. Refutar o Modelo Universalista do Envelhecimento
A visão homogênea do envelhecimento ignora as condições históricas, culturais e socioeconômicas que moldam as vivências de cada pessoa. Nosso trabalho desafia essas concepções ao propor:
Situar as pessoas idosas em suas condições objetivas de existência e historicidade.
Considerar os impactos do desfinanciamento dos sistemas de proteção social e saúde no Brasil, bem como as consequências do idadismo estrutural.
Investigar como práticas locais de envelhecimento resistem às narrativas globais, criando alternativas híbridas e culturalmente significativas.
Por que isso importa?
Cada pessoa idosa carrega uma história única, inserida em contextos sociais específicos. Entender e respeitar essa pluralidade é fundamental para superar abordagens reducionistas e colaborar na construção de evidências que fortaleçam políticas públicas inclusivas.
2. Reconhecer a Diversidade de Práticas Culturais e Sociais Relacionadas ao Envelhecimento
A diversidade cultural em torno da velhice é um recurso valioso para a transformação social. Práticas e saberes locais, muitas vezes invisibilizados, oferecem possibilidades de questionar e renovar os valores que estruturam a sociedade.
Nosso compromisso:
Mapear e valorizar práticas culturais relacionadas ao envelhecimento, especialmente entre grupos historicamente marginalizados.
Promover políticas e ações públicas que fortaleçam essas práticas, ampliando o acesso e a inclusão.
Superar os estudos normativos, explorando narrativas subalternas que desafiem as visões dominantes sobre a velhice.
Essas ações não apenas diversificam o debate acadêmico, mas também criam novas oportunidades para a construção de um tecido social mais rico e plural.
3. Valorizar as Histórias, Ações e Contribuições das Pessoas Idosas
As pessoas idosas são agentes históricos, cujos conhecimentos, histórias de resistência, memórias e experiências são fundamentais para o desenvolvimento de uma sociedade mais consciente e democrática. No entanto, suas vozes frequentemente permanecem silenciadas ou pouco evidenciadas.
Nossas ações incluem:
Defender a cidadania plena em oposição à "cidadania lúdica", um conceito que subestima o papel cidadão das pessoas idosas na sociedade.
Valorizar histórias de vida como ferramentas de resistência e transformação social.
Registrar e publicizar narrativas que reflitam as contribuições das pessoas idosas em espaços acadêmicos, educacionais e culturais.
Inspirados por Paulo Freire, enfatizamos que o diálogo é o motor da transformação. A escuta ativa das pessoas idosas não é apenas uma necessidade ética, mas também um ato político essencial para validar suas contribuições ao tecido social.
Convite à Reflexão e Ação
Convidamos todos os que atuam na área do envelhecimento a se unirem a essa reflexão. Incorporar abordagens críticas e engajadas em projetos de pesquisa e extensão é uma maneira coletiva de construir uma visão mais plural e inclusiva sobre as velhices.
O Grupo de Pesquisa Envelhecer Cotidiano continuará aprendendo e explorando as potencialidades e resistências das pessoas idosas. Juntos a tantos outros coletivos, podemos transformar paradigmas e criar uma sociedade verdadeiramente diversa, onde todas as gerações tenham seus direitos e histórias plenamente reconhecidos.
Participe! Construa conosco novos olhares sobre as velhices plurais. Envie-nos suas ideias e projetos sobre o tema.
Estamos encerrando 2024 com gratidão e entusiasmo, na certeza de que 2025 trará novas "fissuras" promotoras da dignidade do envelhecer em nossa cidade, região e país.